29 de junho de 2009 às 16h55m
Honduras sofre golpe militar
Militares prenderam o presidente Manuel Zelaya e o levaram para a Costa Rica; Zelaya se diz vítima de ´seqüestro brutal´
O presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi detido ontem pelas Forças
Armadas do país e levado para a Costa Rica, onde foi recebido na
condição de ´hóspede´´ pelo governo.
Zelaya disse ter sido
vítima de um ´seqüestro brutal´´ por parte de um grupo de militares de
seu país e que não iria reconhecer nenhuma tentativa de nomearem um
substituto após a sua detenção.
Cerca de cem partidários de
Zelaya bloquearam as principais ruas do lado de fora dos portões do
Palácio do Governo, atirando pedras, insultando os soldados e gritando
´Traidores! Traidores!´. ´Eles o seqüestraram como covardes´, gritou
Melissa Gaitan.
Em entrevista coletiva concedida em San José, ao
lado do presidente costarriquenho, Oscar Arias, Zelaya disse que foi
tirado à força de casa e levado para a Costa Rica. ´É uma bofetada no
país, um retrocesso de 40 ou 50 anos´, afirmou Zelaya. ´Há a intenção
de destituir a democracia, a partir de um pequeno grupo do Exército.
Mas não se trata de todo o Exército, mas sim um grupo de pessoas
ambiciosas pelo lucro, que defende uma pequena elite econômica´,
acrescentou. Segundo ele, as comunicações do país ´estão interrompidas´.
Logo
após a prisão de Zelaya, os militares tomaram as ruas da capital
Tegucigalpa. Carros blindados e tanques saíram às ruas e aviões
sobrevoam a cidade. As rádios hondurenhas pediram que a população
ficasse em casa.
O Congresso de Honduras já nomeou o presidente
da Casa, Roberto Micheletti, por unanimidade, como o novo presidente do
país. A resolução, lida no plenário, acusa Zelaya de ´manifestar
conduta irregular´ e ´colocar em perigo o Estado de direito´, o que é
uma referência à sua recusa de obedecer a decisão da Suprema Corte do
país contra a realização de um referendo constitucional. O secretário
do Congresso Hondurenho, José Alberto Saavedra, declarou que Zelaya
havia apresentado ontem uma carta de renúncia alegando ´problemas de
saúde´, o que foi desmentido pouco depois pelo próprio Zelaya, em uma
entrevista à rede de televisão CNN, em espanhol. ´Nunca renunciei. Sou
presidente eleito´, afirmou o presidente hondurenho.
´A renúncia
é totalmente falsa. Trata-se de uma conspiração política embasada
militarmente´, acrescentou Zelaya. O presidente disse ainda que não vai
reconhecer nenhum outro governo do país.
Zelaya ainda garantiu
que vai comparecer hoje à reunião dos presidente de países da América
Central, na Nicarágua. Segundo ele, o presidente da Venezuela e seu
aliado, Hugo Chávez, que também vai participar do encontro, vai
providenciar seu transporte.
A nomeação de Micheletti segue o
preceito constitucional de Honduras de que na ausência total do
presidente do país e de seu vice (Elvin Santos, que renunciou em 2008),
assume o presidente do Parlamento. Micheletti deve ocupar o cargo ´pelo
tempo que falta para terminar o período constitucional, que termina no
dia 27 de janeiro de 2010´. As eleições estão previstas para o dia 29
de novembro deste ano.
´ATENTADO À DEMOCRACIA´
Brasil condena expulsão de líder
Brasília.
O governo brasileiro, por meio de um comunicado do Ministério das
Relações Exteriores, condenou a ação militar que obrigou o presidente
de Honduras, Manuel Zelaya, a sair do país em direção à Costa Rica.
´Ações
militares desse tipo configuram atentado à democracia e não condizem
com o desenvolvimento político da região´, diz o comunicado. ´Eventuais
questões de ordem constitucional devem ser resolvidas de forma
pacífica, pelo diálogo e no marco da institucionalidade democrática´,
acrescenta.
O documento afirma ainda que o ´governo brasileiro
solidariza-se com o povo hondurenho e conclama a que o Presidente
Zelaya seja imediata e incondicionalmente reposto em suas funções´.
Ainda
segundo a declaração, o presidente Lula acompanha a situação por meio
de contatos com outros Chefes de Estado e por intermédio de informações
repassadas pelo chanceler Celso Amorim.
O presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama, também criticou o golpe militar. ´Quaisquer
tensões e disputas existentes devem ser resolvidas pacificamente e
através do diálogo, livre de qualquer interferência externa´, declarou
o líder americano.
Já o presidente da Venezuela, Hugo Chávez,
anunciou que ´tudo o que tenha que fazer´ para restituir Zelaya ao
cargo e advertiu que responderá ´inclusive militarmente´ se ocorrerem
agressões contra o embaixador venezuelano em Tegucigalpa, Armando
Laguna.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, repudiou o
golpe de Estado. ´Estou muito preocupada com a situação em Honduras. O
episódio nos lembra a pior barbárie da história da América Latina´,
disse.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou ontem,
por unanimidade, uma resolução de inequívoca condenação ao golpe de
estado. O texto ainda exige o ´imediato e incondicional´´ retorno do
presidente a suas funções e afirma que os 34 países da entidade ´não
reconhecerão nenhum governo que seja resultado de ruptura´´
constitucional no país centro-americano.
A resolução foi elogiada pelo embaixador hondurenho na organização interamericana, Carlos Sosa.
A
resolução foi negociada durante cinco horas e determina que o
secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, participe hoje, na
Nicarágua, de reunião do Sistema de Integração Centro-Americana, da
qual Zelaya participará.
FIQUE POR DENTRO
Presidente tentava estender mandato
O
Exército de Honduras derrubou Manuel Zelaya depois de, na semana
passada, o presidente ter destituído o chefe do Estado-Maior porque
este se negou a ajudá-lo a organizar uma consulta popular - declarada
ilegal pela Justiça - sobre a possibilidade de estender o mandato
presidencial de quatro anos. A Suprema Corte ordenou que Zelaya
restituísse a seu cargo o chefe do Estado-Maior, general Romeu Vázquez,
e o presidente viu isso como uma tentativa de golpe contra ele. O
tribunal disse que deu ordem às Forças Armadas de expulsar Zelaya
devido à sua insistência sobre o referendo.
Fonte: Diario on line