No fim das contas, nem ficou tão feio
quanto poderia. O novo carro da Ferrari, apresentado nesta semana sem
pompa, nem circunstância em Mugello, foi o primeiro a sair do forno sob
o novo regulamento da F-1. Na estética, as regras novas impõem uma asa
traseira estreita e alta, uma asa dianteira larga e retilínea, quase um
rastelo, e, o que é melhor, ausência de apêndices aerodinâmicos no
corpo da carenagem.
É
o que concedeu alguma beleza ao carro, cujas curvas agora podem ser
entendidas e apreciadas, sem tantos elementos espetados aqui e ali. As
novas regras têm intenção clara: reduzir a dependência aerodinâmica,
permitindo que um carro contorne uma curva rápida mais perto daquele
que está na frente sem perder aderência, porque a ação do vento sobre
as asas será menor. Isso fará com que as tentativas de ultrapassagens
aumentem, auxiliadas pela maior aderência mecânica que os pneus lisos
oferecem — andar fora do traçado será menos perigoso, agora.
Logo
depois apareceram os novos Toyota e McLaren. Todos muito parecidos, e é
normal que seja assim em anos de mudanças radicais no regulamento
técnico. Melhor não inventar muito, porque numa temporada de testes
proibidos, carro mal nascido não tem como melhorar. Por enquanto, a
única novidade foi a colocação dos espelhos retrovisores da F60, a
Ferrari que disputa seu 60º Mundial. Eles têm claras funções
aerodinâmicas. Mas, aparentemente, não ferem regra alguma.
Mas o
que está pegando mesmo é o KERS, sistema de recuperação da energia
gerada nas frenagens, que dará aos pilotos algo entre 60 a 80 hp extras
por volta, por cerca de 6 segundos. Mais uma variável para ajudar nas
disputas de posições. O KERS, no entanto, não é uma unanimidade. A
eletricidade gerada traz até alguns riscos. Nos testes, teve mecânico
levando choque do carro nos boxes. Nas carenagens, agora, há até um
adesivo: “cuidado, alta voltagem”.
O sistema não é exatamente
uma novidade tecnológica, nem mesmo em corridas. Mar carece de
desenvolvimento. Veremos, neste ano, que os mecânicos vão relutar um
pouco para encostar nos carros quando eles pararem nos boxes. Sem
meias-palavras, eles agora dão choque. Fisicamente, as “maquininhas”,
pesadas, algumas com até 60 kg, são como pequenos rotores que giram a
uma razão de até 160.000 rpm para gerar energia elétrica, que,
acumulada em baterias espalhadas pelo carro, dá a tal de potência extra
para ser usada de dentro do cockpit.
O KERS não agrada a todos,
e alguns times devem começar o ano sem usá-lo, pelo simples fato de que
uma equipe em particular, a BMW Sauber, está mais avançada na sua
aplicação. Se fizer um bom carro, pode até ser a surpresa do início da
temporada, diante do óbvio favoritismo de Ferrari (campeã de
construtores), McLaren (de pilotos) e Renault (com Alonso de volta à
antiga forma e motivado de novo, depois de duas vitórias em 2008).
Neste
ano de treinos proscritos, quem sair na frente nas primeiras provas
terá uma grande vantagem no Mundial até os adversários recuperarem o
tempo perdido. Por essas e outras, o campeonato promete.
Bem, todo campeonato promete...
Fonte: Flávio Gomes, da ESPN Brasil